No módulo anterior, você pôde conhecer alguns conceitos que nos ajudam a compreender as articulações do racismo brasileiro. Para aprofundar essa conversa, vamos discutir neste módulo aspectos centrais no debate sobre as relações entre juventude e racismo. Vamos abordar também alguns modos pelos quais a invisibilidade de algumas formas de violência potencializam os efeitos das desigualdades raciais sobre a juventude. Vamos debater o histórico de violência no Brasil e trabalhar na ampliação de nossas visões e percepções sobre o que concebemos como violência social.

Entendemos que esse debate nos ajuda a compreender o racismo como um dos fenômenos fundamentais na produção de violências presentes nas trajetórias de jovens negros no Brasil, seja pela desigualdade no acesso a direitos ou pela morte iminente. Esperamos que esta reflexão possa transformar as formas como percebemos a realidade da juventude negra e inspirar o engajamento dos atores da escola no combate à reprodução de práticas de violência e subalternidade que marcam as identidades e as trajetórias juvenis.

Boa leitura!

Ana Amélia Laborne, Igor Thiago Moreira Oliveira e Luciana Maria de Souza

Um dos temas mais presentes na vida dos brasileiros em nosso tempo é a violência. Nas conversas cotidianas, nas ruas e nas casas, nos locais de trabalho, nas escolas, nos estabelecimentos comerciais, nas horas de lazer e fundamentalmente nas mídias, nas rádios, nos canais de televisão, nas redes sociais e na internet, o tema da violência aparece de maneira corriqueira.

O fato de reconhecermos a "onipresença" do tema da violência no imaginário social contemporâneo dos brasileiros não significa de maneira alguma que a sociedade analise e enfrente a questão de maneira adequada. Ao contrário, no Brasil muito se fala da violência e pouco se esclarece sobre as diferentes formas e expressões do fenômeno presentes no contexto contemporâneo. As notícias sobre violência divulgadas amplamente nos meios de comunicação pouco contribuem para refletirmos de maneira mais profunda sobre o problema. Ao contrário, são mercadorias valiosas para os meios de comunicação: elas "vendem" bem o veículo à medida que sejam mais sensacionalistas e impactantes.

Tirinha: Encontro Anual dos Donos do Mundo por André Dahmer Tirinha: Encontro Anual dos Donos do Mundo por André Dahmer

Nesse sentido, nossas sociedades vivem parte do medo social através da fabricação do pânico moral (social) pelas mídias como o "quadrinho" acima mostra de maneira caricatural. E, nessa engenharia do medo social, o caráter ideológico dos discursos fica nítido quando a palavra "violento" é utilizada para definir sempre o "outro", o que não pertence ao seu bairro, à sua família, à sua classe, à sua etnia ou à sua raça. As imagens e informações veiculadas abundantemente todos os dias contribuem para a construção e/ou o reforço dos estigmas e estereótipos correspondentes a determinados segmentos da população brasileira. E é justamente aí, nesses terrenos de produção do imaginário social, que os agentes da violência, os escolhidos para figurar como "inimigos" sociais, vão sendo marcados: os que têm classe, cor e idade bem definidas – pobres, negros e jovens do sexo masculino. Pensemos em um exemplo concreto como o caso em evidência nacional como os "rolezinhos" em alguns shoppings.

Os "rolezinhos" são encontros de jovens marcados pelas redes sociais para se divertir, paquerar, beijar e "curtir" em grupo nos shoppings. A grande maioria dos jovens que participam dos "rolezinhos" são negros e oriundos das camadas populares. No início do ano de 2014, esses encontros se transformaram em um dos principais assuntos de debate na cena pública brasileira. A presença do assunto nos meios de comunicação, nas redes sociais e nas conversas cotidianas das pessoas se deu pela divulgação dos conflitos que emergiram nos shoppings: os "rolezinhos" passaram a ser duramente reprimidos pelas equipes de segurança dos centros comerciais e, em alguns casos, pela polícia militar.

Em um domingo de janeiro de 2014 (10/01/14), dois shoppings da zona sul e leste de São Paulo reprimiram, juntamente com a polícia militar, encontros de jovens de periferia marcados pela internet. No shopping Itaquera, zona leste de São Paulo, a polícia militar chegou a usar bombas de gás e balas de borracha contra os garotos na rampa que liga o metrô ao centro de compras. A repressão também ocorreu no terminal de ônibus que se localiza ao lado do shopping. Havia ali entre mil e 3 mil jovens no encontro. Os lojistas do centro comercial baixaram as portas, mas, segundo a assessoria de imprensa do shopping não houve furtos ou roubos. E, ainda assim, os jovens que conseguiram entrar no shopping, cantando músicas e andando em grupos, foram recebidos pela PM a golpes de cassetete. O centro comercial foi fechado e apenas a entrada de pessoas identificadas como não participantes do "rolezinho" foi permitida pela polícia. Para impedir que mais "rolezinhos" acontecessem, seis shoppings em São Paulo conseguiram na justiça uma liminar que proibia a realização desses tipos de encontro em suas instalações. O shopping JK Iguatemi, um dos mais luxuosos da capital paulista, blindou suas portas de vidro e fez com que cada pessoa que tentasse entrar no local tivesse que se identificar.

Saiba mais:

Essas notícias sobre a repressão do "rolezinho" no shopping Itaquera em São Paulo podem ser lidas em:

Todos esses acontecimentos geraram um debate "caloroso" que explicitou posições distintas e opostas sobre a questão dos jovens negros e pobres na sociedade brasileira. Convidamos vocês para que "vasculhem" o material sugerido logo abaixo sobre o debate em torno dos "rolezinhos".

A discussão em torno dos "rolezinhos" lançou luz sobre o que temos conversado ao longo do curso e deste texto: o racismo e a segregação social vivenciados por jovens negros e pobres. O racismo "velado" se tornou explícito com a reação repressora aos "rolezinhos". A questão que fica é justamente se a juventude negra e de periferia não é bem vinda nos espaços de consumo da classe média branca.  Por que a simples presença de jovens negros em grupo nos shoppings gera pânico, medo e sensação de insegurança nas pessoas?

Charge do cartunista e ativista Carlos Latuff Charge do cartunista e ativista Carlos Latuff retirada de: latuffcartoons.wordpress.com - Acesso em: 18/01/2014

Explorando materiais

Ampliando o debate sobre os "rolezinhos"!

Estamos disponibilizando links de textos analíticos, ensaios, reportagens e vídeos para que vocês mesmos possam se aprofundar neste debate. Entrem nos links, leiam, assistam e vejam para que possamos debater em nosso fórum de discussão!

Os “rolezinhos” de alguma forma nos indicam que a generalização das imagens da cidade como lugar da violência e os sentimentos de pânico e insegurança dela decorrentes passaram a fazer parte do cotidiano de seus moradores, mas particularmente atingiram os negros, moradores de favelas e bairros pobres. A situação é, então, paradoxal. Os eleitos como agentes da violência são também os que mais a sofrem. Conforme veremos ao longo deste texto e ao longo deste curso, os mesmos jovens negros e pobres que são vistos e representados socialmente como potencialmente violentos são os que mais sofrem violência em todos os âmbitos da vida: são os mais discriminados e estigmatizados, são os que possuem menos oportunidades, são os mais reprimidos pela polícia, são os mais pobres, com menos acesso e permanência na escola e são também os que mais morrem. 

O que estrutura a vida desses indivíduos é um processo histórico de construção do racismo e da desigualdade social no Brasil. As injustiças, as opressões e os desequilíbrios sociais historicamente construídos determinam os indivíduos que serão marcados pelas práticas de violência.

Leia o diálogo a seguir. Este diálogo entre um advogado de Lisboa e um dono de escravos e minas de ouro do Brasil faz parte de um panfleto anônimo que apareceu publicado na capital portuguesa em 1764. A partir dele, podemos refletir sobre a violência imanente do sistema escravista e da formação histórica do Brasil, bem como estabelecer conexões com nosso tempo:

Mineiro
...sempre reparei que no Brasil se tratam os negros pior do que uma besta, dando-lhes aspérrimos castigos, chamando-lhes nomes muito injuriosos, e contudo os pretos se acomodam.
Letrado
Vossa Mercê, pelo que vejo, é Mineiro, e tem andando pelos Brasis, porém agora há de ter paciência de me ouvir. Todos estes castigos e nomes injuriosos, ou, para melhor dizer, escandalosos, em passando dos limites da precisa correção, são todos pecaminosos, criminosos e injustos.
Mineiro
Vossa Mercê esta zombando! Em certo Engenho na Bahia vi eu morrer em um dia dois negros, estando seu senhor à sua vista mandando-os açoitar por outros escravos; e no Rio, em uma roça, vi a um senhor, que por suas mãos matou a um negro e mais nenhum deles teve castigo algum pelas mortes dos escravos, nem nisso se falou; porque, enfim, se mataram aos negros, eles é que ficaram perdendo o seu dinheiro , e cada um é senhor do que é seu.
Letrado
Ah, Senhor! E quantas insolências se cometem com os miseráveis escravos nos Brasis! Mas que as usa? Gente avarenta! Gente pouco temente a Deus! Gente que tem coração de fera!
Mineiro
Quem me dera, Senhor Doutor, vê-lo lidar com cem ou duzentos negros desobedientes, aleivosos, preguiçosos, ladrões, etc. e ver como se havia de haver então com eles.
Letrado
Faria pior do que quantos lá estão...

Na conversa apresentada acima, aparece um dilema fundamental: o Letrado, advogado de Lisboa, condena as atrocidades cometidas contra os escravos pelos senhores, mas, ao ser questionado sobre como lidaria com os escravos, caso fosse um Senhor, o Letrado responde que “Faria pior do que quantos lá estão...”, ou seja, o dilema apresentado pelo advogado lisboeta é o de sustentar princípios humanitários no plano do discurso e sustentar a legitimidade da violência quanto confrontado com o plano da prática.

Esse dilema entre discursos e práticas que aparece no diálogo acima pode ser entendido como um das marcas da formação histórica brasileira. No plano dos discursos que os brasileiros fazem de si mesmos, o Brasil é auto-representado como um lugar humanista e acolhedor e os brasileiros como cordiais - “um país tropical abençoado por Deus”. É a imagem que o Brasil vende para o mundo: a de que em nosso país vivenciamos uma harmônica democracia racial. No plano da história concreta e da experiência histórica dos brasileiros, encontramos o oposto: um país historicamente marcado por conflitos sociais, marcado pelo racismo e pela escravidão, marcado pela eliminação de diversas etnias indígenas, enfim, marcado por profundas hierarquias e injustiças sociais, um verdadeiro “moinho de moer gente.” Somos um povo estruturalmente marcado, portanto, por uma histórica cultura autoritária, classista e racista. É o que nos diz o pensador Darcy Ribeiro, em um grande ensaio sobre nós brasileiros no livro intitulado “O povo brasileiro: formação e o sentido do Brasil”:

A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que incandesce, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar os pobres que lhes caem às mãos. pág. 120

Essa “mácula” histórica de ter a “cicatriz de torturador impressa na alma”, como nos diz Darcy, faz com que no Brasil os negros, os pobres e os segmentos marginalizados da população sofram a violência em suas mais amplas e diversas dimensões: são os mesmos a serem representados socialmente como potencialmente criminosos e violentos e os mesmos a sofrerem a violência – simbólica, física e de negação de direitos. Para que fiquemos com exemplos ainda presentes na memória de todos, relembremos os casos das ocupações de comunidades pobres na cidade do Rio de Janeiro pelo exército e pelas forças policiais. Com o objetivo de pacificação de comunidades pobres da capital fluminense, as forças de segurança ocuparam esses locais com objetivo de promover a “pacificação” e a instalação das chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

 O debate sobre as chamadas UPPs é “caloroso” como o debate dos “rolezinhos” referido acima. Não teríamos condições suficientes para abordá-lo neste texto, mas podemos discutir sobre o tema ao longo do curso. O que queremos salientar aqui é que, durante o processo e o período de implantação e funcionamento das UPPs (ocupação das comunidades e funcionamento das unidades), muitas foram e são as denúncias de violação de direitos das populações locais. As denúncias demonstram como a população das comunidades sofre com constrangimentos cotidianos por parte das forças policiais de diversos modos.

Saiba mais:

A Rede de Comunidades e Movimentos contra a violência é um movimento social independente do Estado, de empresas, partidos políticos e igrejas, que reúne moradores de favelas e comunidades pobres em geral, sobreviventes e familiares de vítimas da violência policial ou militar, e militantes populares e de direitos humanos. O site da Rede reúne estudos, artigos, vídeos, fotos e denuncias da violência do Estado para com as comunidades pobres no Rio de Janeiro. Há muito material sobre violações de direitos durante as ocupações das comunidades e durante o funcionamento das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

www.redecontraviolencia.org

Refletindo sobre o casso das UPPs temos no plano do discurso (lembrando do dilema histórico brasileiro a que nos referimos acima), os supostos princípios humanitários legitimando a ação do Estado para com os pobres. No plano da experiência concreta, o que houve foi toda a sorte de violações de direitos daquelas pessoas por meio de uma ação violenta para com os pobres e negros cariocas inclusive com mortes. O caso de maior repercussão sobre a prática de violência policial nas UPPs se deu em julho de 2013 quando o pedreiro Amarildo desapareceu após ser abordado por policiais e levado à sede da UPP da Rocinha. Através da internet, os movimentos sociais, as redes ativistas e pessoas sensibilizadas com o caso divulgaram a campanha “Cadê o Amarildo?” que ganhou repercussão nacional. Os policiais foram presos e denunciados sob a acusação de torturar e matar o pedreiro Amarildo na sede da UPP Rocinha. A reportagem do Canal Ibase – “Mortes põe em xeque ação das UPPs no Rio” aborda de maneira clara a violência policial nas UPP´s. Vejamos um trecho desta reportagem:

“Dados da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) mostram que as áreas ditas pacificadas não fazem jus ao nome. A Comissão da Alerj tem dado ênfase a dois casos recentes no Complexo de Manguinhos e na Favela do Jacarezinho. No primeiro, o jovem Mateus Oliveira Casé teria morrido eletrocutado após receber um tiro de pistola laser disparado por um policial da UPP, instalada desde janeiro no local. Matheus teria tido uma parada cardiáca após o disparo. No segundo caso, Alielson Nogueira, de 24 anos, morreu ao levar um tiro no rosto. A Comissão de Direitos Humanos da Alerj tem outras informações que põem em xeque os metódos de policiamento da UPP. Só entre os dias 30 de março e 6 de abril, houve denúncias de violações em cinco UPPs: em Manguinhos, Jacarezinho, no Complexo do Alemão e nas favelas da Rocinha e da Mangueira. No Alemão, por exemplo, houve uma denúncia de um homem baleado na frente da família. Na Mangueira, o relato foi de uma abordagem ilegal feita por um policial, como contou o advogado Guilherme Pimentel, assessor da Comissão da Alerj.”

Charge do cartunista e ativista Carlos Latuff Charge do cartunista e ativista Carlos Latuff retirada de: latuffcartoons.wordpress.com - Acesso em: 18/01/2014

Nesse sentido, perguntamos: quem de nós se sentiria bem em ter o bairro, a rua, a escola, o cotidiano e a vida invadidos pela polícia e pelo exército como se fosse algo natural? Quais as razões que levam a violência da ação policial contra a população negra e pobre? Como o racismo e a segregação social contribuem para que negros e pobres sofram com a violência de variadas formas? Quem são os grupos preferenciais das abordagens policiais?

Vamos continuar esta conversa?

Como vimos até agora, marcas de violência são parte da história e do cotidiano de nosso país. Reconhecer e refletir sobre como esse histórico se materializa em nossas relações (interpessoais, sociais, institucionais, afetivas etc.) é um importante elemento de desconstrução da ideia de sociedade harmônica que tanto nos identifica. Certamente a harmonia nas relações, entendida como ausência de violência, se apresenta nas sociedades como um valor importante. Mas o que pretendemos ao duvidar do caráter harmônico de algumas dessas relações é questionar como esse valor, reproduzido como discurso e não como prática, opera invisibilizando opressões e impedindo que possamos enfrentar o quadro das desigualdades brasileiras.

Se afirmamos até o momento que existe um descompasso entre o discurso da harmonia social brasileira em relação às práticas sociais, é possível entender que algumas formas de violência presentes em nossa sociedade são (estão) invisibilizadas.  Assim e entendendo que só é possível enfrentar uma realidade quando podemos percebê-la, nomeá-la e localizá-la, é preciso pensar em novas formas de caracterizar, ver e perceber o que chamamos de violência. Esse exercício de questionamento e reconstrução de nossa concepção de violência se faz importante porque permite a ampliação da diversidade de expressões desse fenômeno, permitindo movimentos de enfrentamento mais coerentes e democráticos.  Vejamos a seguinte afirmação do filósofo Nilo Odália que nos apresenta uma ampliação do conceito de violência: 

Nem sempre a violência se apresenta como um ato, como uma relação, como um fato, que possua estrutura facilmente identificável. [...] o ato violento se insinua, frequentemente, como um ato natural, cuja essência passa despercebida. Perceber um ato como violento demanda do homem um esforço para superar sua aparência de ato rotineiro, natural e como que inscrito na ordem das coisas. Nilo Odalia, Coleção Primeiros Passos. O que é violência. 1993 p.22- 23

O autor nos convida a um exercício de desconstrução da naturalidade de algumas de nossas experiências cotidianas ao afirmar que, em um ato rotineiro, pode estar oculta uma violência. Esse exercício de questionar a naturalidade das coisas é uma maneira de dar visibilidade às formas de violência que não são socialmente legitimadas e, por isso, se tornam imperceptíveis. Aqui, quando nos referimos a legitimidade, falamos daquilo que é mais consensual entre as pessoas, ou seja, que é mais reconhecido e nomeado como violência.

Para nos aproximarmos um pouco do debate de ampliação do conceito de violência, vamos pensar sobre o que você, cursista, concebe como violência. Para isso, veja as três imagens abaixo e as perguntas que se seguem:

Imagem 1 Imagem 1
Imagem 2 Imagem 2
Imagem 3 Imagem 3

Qual delas é uma imagem representativa da violência? Alguma imagem mostra um ato de violência? Alguma delas é figurativa do efeito de alguma forma de violência?

Em geral, quando a palavra violência vem a nossa cabeça, pensamos em agressão física, assaltos, roubos, agressão verbal, ou seja, uma ação direta e concreta exercida por uma pessoa ou grupo de pessoas contra outra pessoa, ou grupo de pessoas. Mas a violência também pode acontecer por meio da produção de símbolos, da expressão de preconceitos, das representações estéticas e corporais normativas, dos padrões e das regras institucionais, assim como da linguagem. Assim pensar sobre violência é também refletir sobre valores, crenças e comportamentos cotidianos e considerados normais.

Como você pôde perceber no módulo anterior, em nosso curso, estamos preocupados em entender um pouco mais a realidade de jovens negros e o fenômeno do genocídio dessa juventude. Seguindo com nosso propósito, vamos tomar como objeto  de nossa atenção as articulações da violência com o racismo brasileiro, entendendo que os símbolos e as representações raciais no Brasil se materializam como violência na trajetória de negros e negras. O vídeo abaixo mostra, através de um “experimento”, como aquilo que percebemos como normal ou esperado pode refletir uma prática violenta a partir da expressão do preconceito e da discriminação racial.

Manifesto Porta na Cara - Flagrante na agência bancária

Ao assistir o vídeo, vamos nos colocar no lugar de quem participa da cena, sem saber que se trata de uma experiência. Certamente pensaríamos que o impedimento do acesso do jovem negro ao banco estaria relacionado a algum conteúdo impróprio presente em sua mochila ou bolso e, assim, nada teria a ver com sua aparência, seu cabelo e sua cor de pele. Mas é a visibilidade do racismo, propiciada pela comparação com o jovem branco portando os mesmos objetos, que nos permite perceber a violência racial invisível em uma cena cotidiana. A identificação da diferença no acesso ao estabelecimento nos permite perceber essa dinâmica de restrição acontecendo de forma invisibilizada. Assim, a violência em suas distintas expressões se afirma como uma dinâmica social muito mais ampla e processual, dinâmica que pode se estabelecer entre indivíduos, entre grupos sociais, entre instituições, seja em um momento determinado ou ao longo de muito tempo. Ou seja, trata-se de um tipo específico de relação social que pode se dar entre quaisquer atores sociais, mesmo quando não  facilmente localizada.

Essa diversidade pela qual a violência pode se manifestar em nossas relações pessoais e institucionais afirma a importância de inserir a escola no debate sobre a violência. Como instituição, a escola é parte da sociedade e, em seu interior, estão presentes fenômenos sociais de toda ordem, constituindo a escola como um cenário a ser interpelado no movimento de visibilização da violência racial. De que formas a escola reproduz violência? Onde se esconde o racismo na escola? De que formas pode enfrentá-lo? Certamente essas questões exigem como ponto de partida o reconhecimento de cada contexto escolar e de como a violência se materializa no cotidiano e nas práticas escolares.

Menina de 4 anos é vítima de racismo em escola de Contagem

Assista no site

Trazemos, na reportagem a cima, que retrata um crime de racismo dentro do ambiente escolar, um exemplo de violência na escola em que as ações dos atores apontam para a reprodução e a naturalização de práticas raciais violentas. Situações similares já aconteceram em sua escola? Quais ações foram realizadas? Você conhecia a lei 10.639 antes da leitura do Módulo 3? Sua escola trabalha na implementação dessa lei? Deixamos essas questões para que você, cursista, reflita sobre a realidade de sua escola e exercite seu olhar sobre o cotidiano escolar a partir de novas lentes sobre o que é violência.

Outras Cores

Acesse o texto Formas de violência contra a mulher e veja, através da discussão que amplia a leitura de violência contra mulher para além da agressão física, alguns outros conceitos amplos sobre violência.

www.cnj.jus.br

Agora que pensamos de forma mais aprofundada sobre nosso entendimento acerca da violência, reveja as imagens que apresentamos acima. Você consegue reavaliar sua primeira impressão? Em uma decisão rápida, não conseguimos pensar em todas como representativas de formas de violência e certamente a arma apontada em sua direção chamou mais atenção. Mas, se aguçarmos o olhar para aquilo que é “invisível” na dinâmica da violência social, podemos entender cada imagem de uma forma diferente. O retrato da desigualdade social expressa na imagem 1 pode ser vista como parte do jogo de poder econômico e de exploração violenta do trabalho pelo sistema capitalista. Já na imagem 3, que figura uma turma de estudantes de uma universidade pública sem um único jovem negro, podemos perceber violência na negação histórica ao direito à educação pública de qualidade aos negros.

Essas leituras nos fazem perceber que o conceito de violência deve ser ampliado e compreendido como qualquer forma de interação humana, individual ou coletiva, imediata ou permanente, agressiva ou aparentemente harmônica, que tenha o efeito de desconstituir e subordinar subjetividades, direitos e/ou identidades sociais. Certamente essa mudança de lentes sobre o que pode ou não ser expressão de violência nos convida a reinterpretar nossas certezas e explicações sobre a sociedade brasileira e a perceber nossas interações na escola com um olhar mais cuidadoso e crítico. 

Até o momento, pensamos um pouco sobre o que pode ser entendido como violência na sociedade brasileira e algumas de suas articulações com o racismo. Também debatemos a importância de lidar com esse fenômeno a partir da complexidade de seus processos de invisibilidade. Agora é preciso reforçar a compreensão da relação da violência com dinâmicas de hierarquização social, seja como forma de produzir desigualdades ou reafirmá-las. É a partir dessa relação entre violência e formas de hierarquia social, que o racismo no Brasil constrói, por meio de relações de inferiorização, lugares de menor acesso a direitos, de inferioridade e de marginalidade social para os jovens negros, operando como reprodutora de estereótipos como expresso na imagem abaixo.

Charge

Mas, para além dos estereótipos, a relação entre racismo e violência produz efeitos perversos na trajetória de jovens negros. No início de nosso texto, apresentamos um paradoxo sobre a realidade brasileira quando consideramos uma leitura ampla de nosso histórico de violência social: “os sujeitos eleitos como agentes da violência são também os que mais a sofrem”. Se pensarmos sobre a discussão entre violência visível e invisível, entendemos que, ao não legitimar desigualdades sociais e raciais como violentas, acabamos por privilegiar um tipo de violência, deixando aquelas que atingem sujeitos pobres e negros como expressões menores, aceitáveis ou como efeito exclusivo de escolhas individuais. Essa postura nos convida à repetição de uma história racista, autoritária e colonialista, que, assim como afirma Marilena Chauí (2000), se apresenta como um mito, que, por sua origem fantasiosa e distante da realidade, está fadado à repetição constante de si mesmo.

É preciso, portanto, romper com os silêncios e as ausências produzidos pelo racismo brasileiro, que elege jovens negros como alvo privilegiado de suspeição e como representantes da violência, negando a esses sujeitos direitos sociais básicos e o reconhecimento da positividade e da legitimidade de suas trajetórias. Logo abaixo, a forte afirmação de Nelson Rodrigues, ainda da década de 50, se mostra extremamente atual no que se refere à dinâmica do racismo brasileiro, marcado pela negação de si mesmo.

“Não caçamos pretos, no meio da rua, a pauladas, como nos Estados Unidos. Mas fazemos o que talvez seja pior. A vida do preto brasileiro é toda tecida de humilhações. Nós tratamos com uma cordialidade que é o disfarce pusilânime de um desprezo que fermenta em nós, dia e noite”. Nelson Rodrigues, "Última Hora" - 26/8/1957

Observando formas e texturas (Exercício de observação)

Desnaturalizando o olhar

Pense agora em como é um dia comum em sua vida. Você acorda, se apronta e sai de casa para trabalhar, estudar, enfim, para realizar suas atividades cotidianas. Tente observar os caminhos que percorre, os bairros, as ruas e casas por onde passa. Observe as pessoas. Como lidam umas com as outras, como se relacionam com estranhos e conhecidos. Observe o trânsito, a movimentação de carros, ônibus, motocicletas, bicicletas, pedestres e como se dão os encontros entre eles. Você deve ter observado vários encontros e relações entre as pessoas. Você percebeu algo de violento nessas relações. Como se deu essa violência? Que situações específicas você identificou como sendo marcadas por violência? Quem, onde e como elas aconteceram? Anote essas observações e reflita sobre elas a partir da leitura do módulo.

A discussão apresentada até o momento nos leva a perceber que a sociedade brasileira se estrutura a partir de relações sociais violentas. Além disso, a violência se relaciona com as hierarquias raciais, de gênero, de classe, geracionais e com as relações de poder presentes em nossa sociedade. À medida que todas essas diferenças são hierarquizadas, temos a produção das diversas desigualdades. Como dito anteriormente, é nesse contexto que opera o racismo no Brasil, construindo lugares sociais distintos para negros e brancos e cristalizando estereótipos raciais.

Esses links apresentam situações de discriminação em shoppings de Fortaleza e de Vitória. Nessas situações, a juventude negra é percebida como um grupo de risco, delinquente, que precisa ser contido e retirado daquele espaço onde estão os “cidadãos de bem”, fazendo suas compras e usufruindo desse espaço de lazer. Como discutimos no início do texto, os “rolezinhos” geram verdadeiro pânico nos lojistas e frequentadores desses espaços.

Uma das maneiras mais eficientes de tornar alguém invisível é projetar sobre essa pessoa um estereótipo, um estigma. Assim, vemos apenas uma imagem estereotipada, um reflexo de nosso próprio preconceito. Tudo aquilo que torna aquele sujeito singular desaparece nesse processo. O estigma consegue dissolver a identidade do “outro” e substituí-la por um retrato estereotipado construído pela classificação que a sociedade lhe impõe.

invisível

É o olhar estigmatizante que, ao reconhecer o “outro” a partir de um modelo racista, modela sua identidade, a reconfigura, para que assuma características impostas pela sociedade preconceituosa. Esses estereótipos são construídos por intermédio de ideias preconcebidas que norteiam as interações sociais, desencadeando uma série de comportamentos discriminatórios.

Essas análises nos ajudam a compreender o processo de estigmatização dos jovens, principalmente negros, pobres e moradores de favelas. Ao mesmo tempo em que consideramos a maneira hierarquizada e preconceituosa como os jovens negros são vistos pela sociedade brasileira, devemos também atentar para os efeitos que essas formas de discriminação causam em suas vidas.

A experiência do racismo imprime uma marca negativa na construção das identidades e leva o sujeito a se enxergar de forma inferiorizada. No quadro abaixo, selecionamos alguns casos noticiados que representam a força dessa violência quando pensamos nas desconstruções de subjetividades e na violação de direitos.

Saiba mais:

Gelédes (1988) é uma organização da sociedade civil que se posiciona em defesa de mulheres e negros. No Portal Geledés, encontramos os seguintes relatos de alguns casos noticiados de racismo.

  • Julho/2013 – Dourados/ MS
    Um menino de 3 anos foi abandonado em um terreno baldio. Foi encontrado sujo, com fome e chorando muito. Depois de contar muitas versões contraditórias, a mãe admitiu à polícia ter sido um ato desesperado, pois estava de mudança para a capital para viver com um novo companheiro e ele não aceitava ter em casa uma criança negra. O menino foi encaminhado para um abrigo, enquanto espera a decisão da Justiça sobre quem terá a nova guarda.
  • Janeiro/2013 – Rio de Janeiro/ RJ
    O filho adotivo do casal Ronald Munk e Priscilla Celeste foi expulso de uma concessionária da BMW na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. “Você não pode ficar aqui dentro. Não é lugar para você. Saia da loja! Eles pedem dinheiro e incomodam os clientes”, disse o vendedor, referindo-se ao menino negro, de 7 anos. Em nota, a empresa afirmou não saber que a criança estava acompanhada dos pais e que tudo não passou de um “mal-entendido”.
  • Janeiro/2011 – São Paulo/ SP
    Acusado de furto em um hipermercado de São Paulo, um menino de 10 anos foi levado por três seguranças a uma sala reservada, onde, segundo contou, foi chamado de “negrinho sujo e fedido”. Ele diz ter sido ameaçado com um canivete e obrigado a tirar a roupa. Segundo o boletim de ocorrência registrado pela família, só após revistarem e insultarem a criança é que foi encontrada a nota fiscal dos produtos que ele levava: biscoitos, salgadinhos e um refrigerante.

Será que podemos afirmar que essas violências são consequências do racismo? Enquanto falamos em discriminação racial velada no Brasil, nossos jovens negros estão sendo assassinados nas periferias das cidades brasileiras. O próprio Estado reproduz essa discriminação na violência seletiva das abordagens policiais, que tem como “elemento suspeito”, entre outras características, a pele negra.

Através dessa leitura sobre violência, propomos no presente texto que o racismo seja compreendido como uma violência. Em sua forma mais extrema, justifica o extermínio de jovens negros, pois, na medida em que essa juventude é vista como uma ameaça, a resposta passa a ser sua segregação e, no limite, sua eliminação.

A Conferência de Durban em 2001 foi um marco nas discussões sobre racismo, xenofobia e discriminação. Nesse momento, o Brasil assumiu internacionalmente ser um país racista e se comprometeu a elaborar políticas públicas para combater essa realidade. Contraditoriamente, é interessante observar que durante a última década, após a Conferência, o número dos homicídios aumenta. Acompanhando esses dados, crescem também as denúncias de prisões arbitrárias, da prática de tortura e do abuso de autoridade praticadas por agentes do Estado. O elemento suspeito das abordagens policiais passa então a ser alvo dessa violência que, no limite, extermina nossos jovens negros. Diante desse cenário, não podemos desconsiderar o papel central das atividades policiais como responsáveis por parte considerável das violências físicas e letais sofridas pelos jovens negros, que culmina em uma série de mortes e desaparecimentos no país.

O Mapa da Violência de 2013 nos apresenta dados alarmantes sobre essa realidade discriminatória. Em 2010, mais de 70% dos homicídios registrados no Brasil foram de jovens negros do sexo masculino, moradores de periferias e regiões metropolitanas dos grandes centros urbanos.

O homicídio é a principal causa de morte entre jovens brasileiros entre 15 e 29 anos. Os jovens mais vitimizados têm escolaridade baixa, não chegaram a completar o ensino fundamental. É a juventude negra quem mais sofre com esse massacre. A cada três assassinatos no Brasil, dois são cometidos contra negros.

Considerando os dados de 2002 e 2008, à medida que há um decréscimo de 30% no número de homicídios entre os jovens brancos, esse percentual cresce 13% para os jovens negros. Em 2002, temos que a probabilidade de um jovem negro morrer era 45% maior que a de um jovem branco. Em 2008, esse índice atinge assustadores 127%.

Mapa da Violência

Aqui reafirmamos a situação paradoxal que expusemos nesse texto: esses mesmos jovens negros e pobres identificados como agentes da violência são as maiores vítimas dessa violência na medida em que ser negro no Brasil corresponde a fazer parte de um grupo de risco.

Como nos sinalizam os dados, está em curso no Brasil um verdadeiro genocídio da juventude negra. Um dos grupos de Rap mais conhecidos do país, o Racionais MCs, canta em uma de suas músicas:

“'60% dos jovens da periferia sem antecedentes criminais já sofreram violência policial. A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras. Nas universidades brasileiras apenas 2% dos alunos são negros. A cada 4 horas um jovem negro morre violentamente em São Paulo. Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente.” Capítulo 4, Versículo 3, Racionais MC

Charge de Latuff Charge do cartunista e ativista Carlos Latuff retirada de: latuffcartoons.wordpress.com - Acesso em: 18/01/2014

O principal desafio é combater o racismo, elemento ideológico que encobre, sobre o discurso de sua inexistência, dados alarmantes sobre o genocídio da juventude negra. Como resposta a essa realidade, o Governo Federal lançou em 2012 o Plano de Prevenção à Violência contra a Juventude Negra – Juventude Viva. Várias ações já foram implementadas para combater essa dura realidade como as campanhas que vocês puderam acessar no fim do Módulo 2. No entanto, o Juventude Viva foi a primeira resposta articulada do Governo Federal a uma demanda histórica de denúncias dos movimentos sociais contra o extermínio desses jovens.

Basta

Durante nosso curso, pretendemos nos aprofundar nesse tema, compreendendo melhor as realidades da juventude negra brasileira e identificando a escola como um dos atores centrais na construção de ações pedagógicas e políticas de enfrentamento à violência contra esses jovens. Dessa forma, fazemos deste texto um convite para que você, cursista, possa, através da construção de um olhar crítico sobre a nossa realidade, integrar essa urgente luta da juventude negra no Brasil.

Abraços e bons estudos!

Conheça os autores:

Ana Amélia de Paula Laborne Doutoranda em Educação

Igor Thiago Moreira Oliveira Doutorando em Educação

Luciana Maria de Souza Doutoranda em Psicologia Social

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